terça-feira, 1 de março de 2011

Carnaval ‘Da Lata’ Garantindo Renda a Brasileiros

A indústria de reciclagem ganha força nas ruas de Salvador (e de outras cidades do Brasil) durante o Carnaval. Um exército de pessoas atuam no recolhimento de plástico, papel e principalmente latinhas de refrigerantes e cervejas pelas ruas. Em Salvador, nas áreas próximas às avenidas por onde circulam diariamente os cerca de 100 trios elétricos da cidade e um contingente de foliões estimado em 2 milhões de pessoas, a reciclagem, além de um bom negócio, se transforma em uma indústria bem organizada. O exército de catadores é eclético, não há restrição de idade, escolaridade, habilidade física e, até classe social. O turista que tiver mais disposição, e nada de dinheiro no bolso, também pode fazer algum trocando catando latas pelas ruas .
A matéria-prima está ali, ‘dando sopa’ nas ruas e nos lixos soteropolitanos. E encontrar comprador não é difícil. A desempregada Michele, 22 anos, consegue fazer em torno de 10 reais com os cerca de 5 quilos de latinhas que recolhe pelas ruas da folia. O trabalho é mais fácil do que ser cordeira - segurar a corda que separa os foliões pagantes dos não pagantes nos blocos. Como cordeira ela ganha 14 reais por dia, vale transporte e lanche, mas tem que percorrer entre 4,5 e 7 km, dependendo do circuito da folia, no meio do empurra-empurra, por cerca de 7 horas.
Espalhados pelas principais vias de acesso aos corredores da folia, estão os centros de recebimento das latinhas. Balanças precárias, colocadas nas calçadas, que servem para pesar a mercadoria. Ali, os catadores recebem cerca de 2 a 2,20 reais por quilo. As balanças não são muito precisas – sempre descontam algumas boas gramas, mas o pagamento é imediato, diz Ouro, que preferiu não se identificar pelo nome completo. Há 2 anos ele trabalha para a ‘empresa’ Reciclar com Fé, cuja localização é estratégica – ao lado do camarote de Daniela Mercury, o mais tradicional da cidade, e que atrai muitos foliões para suas imediações. A linha de produção é simples e eficiente: 1empregado tomando conta da balança e pesando as latinhas; 2 ou 3 fiscais que averiguam se algum material estranho – água, areia e ou resto de bebida – está influenciando no peso; 1 caixa, que faz o pagamento aos catadores; e outros 2 que acondicionam as latas, depois de devidamente amassadas, em imensos sacos que comportam entre 80 a 200 quilos de latinhas. O dono do empreendimento não arreda pé, e dorme ali mesmo na calçada, fiscalizando de perto o desempenho de seus empregados. O ciclo se completa com a passagem pela manhã, dos caminhões das indústrias compradoras de alumínio.
Dólar baixo prejudica. A valorização do real tem afetado negativamente a renda dos catadores de latinhas, já que grande parte do alumínio reciclado é exportada. No Carnaval de 2005, segundo Ouro, as indústrias compradoras pagavam cerca de 3,60 reais por quilo de latinha. Este ano, o valor não passa de 2,80. Em conseqüência, o preço ao catador caiu de 3 reais para não mais de 2,20 reais. ‘Eles dizem que é por causa do dólar, mas eu não acredito. Acho que sabem que vai ter muito oferta no Carnaval e baixam o preço’, avalia Ouro. No ano passado, segundo dados da prefeitura de Salvador, foram recolhidas no Carnaval 132 toneladas de latinhas de alumínio.

Raquel Stenzel / Yahoo News

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